Empresários mandaram fábrica diminuir a qualidade dos caixões oferecidos pela Assistência Social; intenção era forçar a venda de caixões caros

Conforme o GAECO, o Secretário de Assistência Social sabia do caso, mas teria feito "vista grossa" para que funcionários indicados por ele fossem contratados.

Por Tcharlles Fernandes
Central de Serviços Funerários de Criciúma.

O Portal Melhores Publicações traz, de forma exclusiva, novos trechos das investigações que resultaram na deflagração da Operação Mercadores da Morte em Criciúma.

Ordem para diminuir a qualidade dos caixões com preços tabelados pelo município

Durante as investigações, os integrantes do GAECO descobriram que alguns empresários que operavam/operam na Central de Serviços Funerários de Criciúma queriam baixar a qualidade dos caixões comercializados. Segundo um dos empresários, a empresa dele mudaria o mostruário, de forma a rebaixar propositalmente a qualidade das urnas que possuem preço tabelado pelo município (tal como previsto no edital da licitação e Decreto Municipal), no claro intuito de forçar os clientes a comprarem urnas mais caras, sem preços tabelados.

A intenção dos mandatários, conforme o GAECO era fazer que os clientes percebessem que os caixões disponíveis fornecidos de forma assistencial eram ruins, praticamente “forçando” que caixões caros fossem vendidos.

Para colocar em prática o plano criminoso, um dos empresários fala abertamente em entrar em contato com ás fábricas para baixar a qualidade dos modelos de caixões tabelados pela prefeitura: "vamo bota só cacalhada ali dentro pra vender bem o particular".

De acordo com o relatório da investigação, para essa mudança da qualidade das urnas, um funcionário supostamente indicado por Bruno Ferreira, Secretário de Assistência Social de Criciúma, teria que ser contratado.

Os investigadores do GAECO, analisando o contexto dos fatos, concluíram que haveria uma “troca de favores” entre os empresários e o Secretário Bruno Ferreira. Ou seja, a funerária atenderia o pedido do Secretário na contratação de um indicado, por sua vez, o Secretário aceitaria a diminuição da qualidade dos caixões.

Empresários dizem que vão colocar só "cacalhada" na Central Funerária.

No mesmo sentido, em outro diálogo interceptado, ocorrido às 16h01min do dia 10/10/2023, uma investigada comenta com o vereador de Criciúma Juarez de Jesus (PSD) - não investigado - detalhes a respeito de um processo administrativo sofrido pela mulher, em razão de um suposto vazamento de áudio em que esta teria dito que a Prefeitura entregou a Central Funerária para as empresas.

Investigada diz que prefeitura não tem mais gerência sobre a Central Funerária.

Apesar da prefeitura ter sido citada pela investigada, é importante ressaltar que o prefeito Clésio Salvaro (PSD), bem como o Secretário-Geral de Criciúma, Arleu da Silveira (PSDB), não são investigados e não possuem nenhuma relação com os fatos apurados na investigação.

Vereadores que se manifestaram.

Vereadores se manifestam sobre o caso

O Portal Melhores Publicações fez contato com todos os vereadores de Criciúma, porém só seis se manifestaram até o momento.

Paulo Ferrarezi (MDB)

Dentro do que tínhamos conhecimento, em denúncias de familiares insatisfeitos com o serviço funeral, levamos a situação ao conhecimento do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Em outubro, juntamente com outros vereadores, eu fiz um requerimento solicitando informações ao município. A resposta também será enviada cópia ao MPSC.

Juarez de Jesus (PSD)

Estou acompanhando atentamente todas as notícias e espero que o GAECO conduza à investigação de forma imparcial. As informações trazidas pelo portal até o momento revelam situações que demandam esclarecimentos, indicando que os vereadores que trouxeram à tona esse tema não estavam envolvidos em politicagem, como afirmava o Secretário de Assistência Social. Continuarei acompanhando de perto os desdobramentos desse caso e me coloco à disposição para colaborar no que for preciso.

Júlio Kaminski (PP)

A gente tem acompanhado os desdobramentos da Operação dentro daquilo que nós tínhamos conhecimento. Os detalhes trazidos pelo Portal Melhores Publicações nos deixa preocupados, porque o assunto exige muita responsabilidade. Responsabilidade para julgar. A gente não pode criar prejulgamentos. As investigações vão continuar e a gente espera que ela decida. Creio que, em relação ao atendimento funerário, nós estamos questionado muito, porque está faltando humanização e isso a gente já tem dito em todas as nossas entrevistas e aquilo que nós discutimos na Câmara de Vereadores. O momento é de continuar buscando informações, é o que eu estou fazendo. Tive uma reunião ontem envolvendo alguns personagens dessa situação, como o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO). Farei alguns encaminhamentos através da Câmara de Vereadores. O que a gente quer é que as pessoas sejam bem atendidas. Ilícitos ou eventuais existência de qualquer situação que comprometa o atendimento no momento de dor das pessoas, precisa ser resolvido. Não podemos permitir que isso continue acontecendo. É de lamentar profundamente a falta de responsabilidade das pessoas, o cuidado que não está tendo nos preocupa profundamente.

Manoel Rozeng (PP)

Fiquei pasmo com o que eu li no diálogo entre os servidores públicos. O cidadão não recebe nada de graça do Estado, ele paga o dobro daquilo que ele pagaria na iniciativa privada se ele não tivesse que pagar os impostos para ter isso como de graça. Eu não vejo nada de graça naquilo que é serviço público. Os servidores faltam com a ética, faltaram com uma boa dose de moral e, na questão legal, também deixaram a desejar. Pela Lei, muita coisa teria que estar acontecendo ali e não deixar simplesmente à “Deus dará”, sem uma fiscalização mais forte. Principalmente porque estava iniciando e tinha que colocar de início uma disciplina mais forte nos serviços.

Neto Uggioni (PSDB)

Eu sou um pouco novo lá (Câmara dos Vereadores), pois antes eu estava na Fundação Municipal de Esportes (FME). Por um período, no final do ano, eu me afastei para tratar da minha saúde e fiquei ausente. Agora que estou voltando. Eu estava muito focado no esporte então, você sabe que é um pouco difícil, questão de lajota, “boca de lobo”, asfalto, essas coisas… Eu não estava muito focado “nessas coisas”, pra mim tudo é muito novo. Eu estava focado no esporte. Ali do nosso amigo (Bruno Ferreira) o que eu vou dizer? Da pra ver que é uma coisa que tá ali, é real né. Na verdade é real né.

Obadias Benones (Avante)

Fui contra desde que vi o projeto pela primeira vez. Aliás, fui o único vereador da base que não votei a favor da diminuição de seis para quatro funerárias. Se existiam problemas nos serviços prestados anteriormente, eram questões fáceis de serem resolvidas. Hoje o tempo provou que eu tinha razão. São muitas reclamações sobre a qualidade dos atendimentos que chegam ao nosso gabinete. Quanto as investigações, sou incisivo em afirmar que sou favorável. Precisamos saber a verdade, e, se houver irregularidades, que os envolvidos sejam punidos. A população de Criciúma precisa saber o que está acontecendo.

Centro de Referência e Assistência Social da Santa Luzia.

Funcionários supostamente indicados por Bruno Ferreira continuam trabalhando

Ao menos dois (podem ser mais) funcionários que seriam apadrinhados políticos do Secretário Bruno Ferreira continuam empregados, mostra a investigação. Ocupando o cargo de Chefe de Divisão, ambos os investigados trabalhavam na Central de Serviços Funerários até o dia 03/09/2023, quando foram realocados devido à denúncias de vereadores.

Atualmente, um dos investigados encontra-se lotado no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da Santa Luzia e o outro (a), cumpre suas funções no Departamento de Protocolo Central, no Paço.

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